História das mandalas
- Zana Machado
- 13 de jun. de 2016
- 3 min de leitura

O símbolo da mandala existe entre nós desde os primórdios da humanidade e foram encontradas em várias épocas e povos, quase todas ligadas a movimentos religiosos ou místicos, sendo que o círculo que a compõe representa sempre a divindade ou algo que é completo por si mesmo (Catarina, 2009). Assim, os dois corpos celestes mais visíveis da Terra, o Sol e a Lua foram sempre reverenciados em rituais. O Sol, além de ser fundamental para a sobrevivência humana, era símbolo de força e movimento e a Lua era importante por influir sobre a vida e a natureza. Jung acreditava que estas mandalas representavam a tentativa de aplacar angústias durante algum período de crise social, como fazem os pacientes psiquiátricos quando desenham formas circulares depois de estados dissociativos, como que procurando voltar ao seu eixo interno. Entende-se que nem pacientes psiquiátricos e nem os povos primitivos tenham alguma consciência do processo interno que procuram com estes desenhos, mas o fazem de forma impulsiva e inconsciente. O fato é que, conscientes ou não, há sempre um efeito terapêutico e alguma integração egoica neste ato, feito desde épocas remotas.
No ocidente as mandalas aparecem como rosáceas das catedrais cristãs e algumas tribos indígenas iniciam seus rituais desenhando algum tipo de círculo[1] e fazem suas danças e cantos dentro de formas circulares (Jung, 2008). Hoje ela é muito usada dentro da experiência religiosa e é um recurso auxiliar para a união com o divino pelo ato meditativo. Mas podemos dizer que a mandala existe em essência desde sempre, além do tempo e do espaço.
Sobre isso, Cambell (citado por Catarina, 2009) relata o seguinte:
“Deparei-me frequentemente com imagens do círculo, em que este aparecia em desenhos mágicos ou na arquitetura, em imagens tanto antigas como modernas. Aparecem nos templos indianos em forma de abóbadas, nas gravuras paleolíticas em rochas da Rodésia, nas pedras do calendário dos astecas, nos antigos escudos de bronze dos chineses e nas visões do profeta Ezequiel do velho testamento, que fala sobre a roda do céu. ”
Quem popularizou a mandala no ocidente foi Jung que estudou e sistematizou seu uso clínico, passível de interpretação como ferramenta terapêutica. Todavia não foi o seu inventor, mas a descobriu em seus estudos das culturas orientais e dela fez uso terapêutico. Ele começou a usar alguns recursos artísticos como técnica terapêutica, pedindo que seus pacientes desenhassem sonhos ou situações conflituosas. Observou que um tema comum nestes desenhos era a forma circular, passando a chamá-los de mandalas e os interpretando como representações do inconsciente pessoal ou coletivo (Sei, 2011; Fincher, 1991; Jung, 2008). Ele também mantinha um diário com seus sonhos, pensamentos e desenhos e, sobre isso, diz:
“Todas as manhãs, eu esboçava num caderno um pequeno desenho circular, uma mandala, que parecia corresponder à minha situação interior no momento... Só aos poucos fui descobrindo o que é propriamente a mandala: ... O Self, a totalidade da personalidade, que, se tudo vai bem, é harmonioso. ” (Jung[2], citado por Fincher, 1991).
Na verdade, podemos dizer que todos nós fazemos um pouco do que Jung fazia. Por exemplo, sempre que estamos numa aula, reunião ou falando ao telefone distraidamente e desenhamos “rabiscos” abstratos num papel, estamos certamente fazendo mandalas que intentam compensar a nossa dispersão mental e nos ordenar internamente naquele momento. E se observarmos estes desenhos, vamos ver que a maioria possui formas geométricas simples, que as ancoram. Estas simples mandalas são como uma gentil proteção psíquica – não uma defesa – que não deixa que conteúdos perturbadores venham à tona numa hora inapropriada.
[1] Na Umbanda brasileira há as “giras”, onde os participantes formam uma roda e são desenhados no chão os “pontos riscados”, círculos que representam a assinatura de um guia espiritual, com quem se está tentando travar contato.
[2] Memories, dreams, reflections – Nova York – Random House – 1965.
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