O que são Mandalas
- Zana Machado
- 13 de jun. de 2016
- 4 min de leitura

“Quando criamos uma mandala, geramos um símbolo pessoal que revela quem somos num dado momento. O círculo que desenhamos contém – e até atrai – partes conflitantes da nossa natureza. Mas, mesmo quando faz um conflito vir à tona, o ato de criar uma mandala produz uma inegável descarga de tensão. [...] O efeito tranquilizador de desenhar um círculo também pode ser causado por uma capacidade de servir como símbolo do espaço ocupado pelo nosso corpo. Desenhar um círculo talvez seja algo como desenhar uma linha protetora ao redor do espaço físico e psicológico que identificamos como nós mesmos. ”
“[...] Quando fazemos uma criação espontânea de cor e forma dentro de um círculo; atraímos para nós a cura, a autodescoberta e a evolução pessoal. [...]”.
Segundo o Dicionário dos Símbolos, a palavra mandala provém do sânscrito, falado na Índia antiga e significa “círculo”. Decompondo a palavra, temos: “manda” = “essência” e “la” = “conteúdo”, podendo ser entendida como “o que contém a essência” ou “o círculo da essência”. A palavra mandala ainda pode designar uma figura geométrica esquemática, sempre concêntrica, em que há um quadrado dentro de um círculo ou vice-versa que podem ter ainda algumas subdivisões em múltiplos de quatro. Outra designação é um círculo, sempre com um centro e irradiações a partir dele ou indo para ele.
As mandalas são utilizadas há séculos pela humanidade em todas as culturas, inclusive em cavernas de povos antigos, encontradas principalmente no oriente, estando cada vez mais populares também no ocidente. São usadas desde como elementos decorativos até como auxiliares em terapias curativas relaxantes e meditativas. Podemos afirmar que as mandalas estão presentes em todas as culturas como um arquétipo. O mundo ocidental conheceu mais sobre mandalas com a globalização e mais especificamente o trabalho do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, que utilizou a palavra “mandala” para designar desenhos circulares feitos por ele e por seus pacientes.
E é assim com a mandala que, no oriente é usada para ser contemplada durante a meditação. Meditar olhando para uma mandala traz serenidade, concentração e permite um mergulho dentro de si mesmo como um caminho para a iluminação e o contato com o divino. É usada na decoração de templos, sempre com referências religiosas, espirituais ou mágicas como um meio de canalização deste divino. Representa o mundo, o esclarecimento, a iluminação e a perfeição humana (Porto, 2009; Jung, 2008).
Mas, podemos nos perguntar, por que o círculo? Segundo Fincher (1991):
“[...] Crescemos a partir de um pequenino ovo redondo, abrigado no útero de nossa mãe. Neste, somos circundados e firmemente apoiados num espaço esférico. Quando chega a hora de nascer, somos empurrados para baixo num canal tubular por uma série de músculos circulares e chegamos ao mundo através de uma abertura também circular. ”
“Após o nascimento, encontramo-nos num planeta circular, que se movimenta numa órbita circular em torno do sol. Ancorados a Terra pela gravidade, não temos consciência de que estamos girando. No entanto, o nosso corpo sabe. Se olharmos ainda mais profundamente, para o nível dos átomos que formam o nosso corpo, encontramos um outro universo onde os elementos rodopiam em padrões curvos. A experiência subliminar do movimento em círculos, como a memória do útero da mãe, está codificada em nosso corpo. Assim, estamos predispostos a reagir ao círculo. Compartilhamos esses fatos da vida humana com todos os outros seres da nossa espécie, sejam eles antigos ou modernos. ”
As formas circulares não param por aí, pois há estruturas circulares em construções antigas; as crianças brincam de roda e seus primeiros desenhos são tentativas de fazer círculos. Podemos entender que a experiência do círculo está em nosso corpo, ambiente e história. O círculo parece ser a disposição própria da natureza. Segundo Dibo (2006):
[...] podemos observar o padrão de mandala no caule de uma flor, como a papoula, quando aumentamos sua imagem mil vezes, ou nas dicotamáceas, quando as aumentam quatrocentas e cinquenta vezes, e o padrão de mandala se repete no caule de um lírio, com aumento de cento e vinte vezes. Esse padrão de mandala pode, inclusive, ser visto de forma nítida quando criado em um líquido por vibrações harmônicas.
Segundo Jung (2008a), há diversas variações no tema e na representação de uma mandala, mas ele descreve os elementos formais mais comuns numa mandala, que são:
Forma circular, esférica ou oval;
O círculo se apresenta como uma flor ou roda;
No centro há o sol, uma estrela, ou cruz de quatro, oito ou doze raios;
Os círculos, esferas e cruzes aparecem em rotação, como na suástica;
Serpentes são representadas em forma circular ou espiraladas em torno do centro;
Sua base mais comum é a quadratura do círculo, ou seja, um círculo inserido num quadrado ou vice-versa;
Há representações de castelos, cidades, pátios, sempre em forma quadrada ou circular;
Aparece um olho, com pupila ou íris;
Ao lado de figuras geométricas baseadas no quadrado ou em múltiplos de quatro, podem aparecer também formas triangulares ou pentagonais.
Todos estes símbolos, encontrados fartamente nas mandalas orientais, possuem os mesmos elementos que encontramos nas mandalas espontâneas feitas por pacientes dentro de consultórios. É como se existisse uma disposição inconsciente capaz de estimular estas mesmas representações em diferentes tempos e lugares (Jung, 2008a). Segundo Jung:
“O fato de que imagens desse tipo tenham sob certas circunstâncias um considerável efeito terapêutico em seus autores é empiricamente provado [...] e representam tentativas muito audaciosas de ver e juntar opostos aparentemente irreconciliáveis e de superar rupturas aparentemente irremediáveis. Mesmo numa simples tentativa nesse sentido costuma produzir um efeito benéfico. ” (Jung, citado por Fincher, 1991).
Sobre o efeito terapêutico da mandala, Fincher (1991) afirma que:
“Quando criamos uma mandala, geramos um símbolo pessoal que revela quem somos num dado momento. O círculo que desenhamos contém – e até atrai – partes conflitantes da nossa natureza. Mas, mesmo quando faz um conflito vir à tona, o ato de criar uma mandala produz uma inegável descarga de tensão. [...] O efeito tranquilizador de desenhar um círculo também pode ser causado por uma capacidade de servir como símbolo do espaço ocupado pelo nosso corpo. Desenhar um círculo talvez seja algo como desenhar uma linha protetora ao redor do espaço físico e psicológico que identificamos como nós mesmos. ”
“[...] Quando fazemos uma criação espontânea de cor e forma dentro de um círculo; atraímos para nós a cura, a autodescoberta e a evolução pessoal. [...]”.
É por isso que, ao trabalhar com mandalas, podemos vivenciar momentos de clareza em que os opostos de nossa personalidade se equilibram na consciência e experimentamos uma realidade de harmonia, paz e significado.
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